Aquela moça que conheci nos bancos
da universidade me dizia algo que me deixava pensativa, colocando em impacto
meus pensamentos e sentimentos. Pensava que talvez por eu ser do interior e ela
da capital poderia estar mais certa do
que eu. Inocência e imaturidade. Mas a maneira como ela colocava suas idéias
era quase convincente. Quase porque sempre fui avessa aos modismos extremos,
esses que fogem para muito longe de um mundo dito normal. Não que eu não
tivesse uma certa queda pelo extraordinário, mas havia a bendita consciência
que não me deixava expandir para além de minha educação muito formal. Eram os
parâmetros ditados por meus pais que me paralisavam muitas e muitas vezes. Se
isso foi bom ou ruim hoje eu não sei, só sei que deixei de aproveitar e de
viver mais intensamente minha adolescência quase adulta.
Pois aquela garota sentava na classe ao
meu lado, e no intervalo entre uma aula e outra, conversávamos. Ela me dizia
que jamais iria se casar e se tornar uma dessas “amélias”, que cuidam da casa,
lavam fraldas (nos anos 80 ainda eram mais usadas as fraldas laváveis),
suportam marido e se tornam velhas e acabadas entre quatro paredes. Queria se
vestir bem, ir a festas, passear, conhecer sempre novas pessoas e viajar pelo
mundo afora conhecendo os continentes, os costumes dos povos e a língua de cada
um. Isso sim era felicidade, me dizia. Sem raízes, sem compromissos, sem alguém
pegando no pé. Liberdade total. Na verdade, a profissão que estávamos
conhecendo era bem propícia a esse tipo de vida: fazíamos a Faculdade de
Jornalismo.
Pois bem, ela assim o fez. E quando eu
tinha notícias de minha colega, já sabia que lá estava ela, sempre em um lugar
diferente, nunca fixando residência em parte alguma, e solteiríssima, sem fixar
também seus sentimentos.
Rodou o mundo, gozou de liberdade e de
prazeres.
Mas o tempo passou.
Dia destes, na Feira do Livro de Porto
Alegre, a encontrei. Não sei como a reconheci, de tão diferente que estava.
Triste, com ar melancólico, se queixou de enorme solidão.
Minha ex colega ficou na exterioridade
da vida, na ilusão. Nunca desenvolveu relacionamentos profundos, não casou, não
teve filhos e também não conquistou amizades verdadeiras. E então ela me disse
que melhor seria se tivesse tido grandes amigos, fosse mãe ou amasse de
verdade.
E sendo assim, pude entender, em um
relance, que o AMOR é o pai da FELICIDADE. Olhei para o alto e agradeci a Deus
por minha humilde vida!
FATIMA MARDINI
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